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À conversa com o Dr. Artur Galvão: “Zombies, Pandemia e Filosofia”

Se, em pessoas vulneráveis, o SARS-CoV-2 pode provocar doenças respiratórias graves e até a morte, para a maior parte dos infectados, os sintomas são leves, inexistentes ou semelhantes aos de uma gripe. No entanto, muitas pessoas saudáveis sentem pânico com a possibilidade de serem contagiadas. Psicologicamente, este vírus é muito mais terrível do que outros que circulam por aí por causa da ansiedade que gera. O medo deve-se mais à incerteza relativamente às consequências da infecção do que aos prováveis efeitos da doença.

O medo relativamente ao desconhecido é uma resposta protectora desenvolvida pela evolução natural. No entanto, quando esta reacção é excessiva facilmente conduz à irracionalidade e transforma os seres humanos em zombies (no sentido filosófico), isto é, seres em tudo semelhantes aos humanos, mas desprovidos de consciência. A corrida ao papel higiénico ilustra bem a histeria que o medo provocado pela ignorância pode causar.

A pseudociência tem parte da responsabilidade pela zombificação epistémica. A toda a hora nos é fornecida nova informação, seja nos meios de comunicação tradicionais, seja nas redes sociais, mas nem toda é fidedigna. Esta pode não ser mal-intencionada e ser resultado da ignorância. No entanto, devido a interesses pessoais, existe divulgação mal-intencionada de mentiras, como é o caso das fake news. Como, para a maior parte das pessoas, não é fácil distinguir a informação verdadeira da falsa, muitas acabam por utilizar ideias sem fundamento para se orientar ou então sentem-se desorientadas porque as dúvidas prevalecem.

Não há pior epidemia do que o medo, que coloca em primeiro plano instintos primitivos, entre os quais a discriminação e a violência. É necessário olhar para a sociedade como um todo e optar por aquilo que é melhor para todos e não só para alguns. Açambarcar bens em quantidades absurdas, não traz qualquer vantagem para quem o faz, mas prejudica todos os que vão ficar privados dos mesmos. Além disso, é necessário ter visão de longo prazo e não agir só de acordo com o que proporciona maior segurança, no momento. Se nos guiássemos por este critério, nunca sairíamos de casa, mesmo em circunstâncias ditas normais.

Para combater medos desproporcionais, que nos paralisam e tomam conta da nossa vida, devemos ter o cuidado de agir com base em conhecimentos científicos sólidos. Projectarmo-nos num futuro mais catastrófico do que aquele que os especialistas prevêm poderá prejudicar não só a nossa saúde mental como o bem-estar da comunidade de que fazemos parte. Além da confiança na ciência, o bom senso e a responsabilidade cívica são também ferramentas para controlar o medo e enfrentar as tentações totalitárias do poder.

Apesar de tudo, temos bons motivos para ter esperança na capacidade de controle desta pandemia. Os progressos científicos são feitos a um ritmo muito mais rápido do que alguma vez no passado. No espaço de poucos meses muito foi alcançado:
- O genoma do vírus foi rapidamente descodificado, assim como as suas mutações.
- Compreendemos o processo de infecção celular.
- Sabemos detectar o vírus, através de testes de diagnóstico.
- Existem soluções para desactivar o vírus, que são simples e económicas, como a lavagem das mãos com água e sabão.
- Existe um grande número de cientistas, em todo o mundo, a fazer investigação sobre o vírus, incluindo: aspectos clínicos e tratamentos, vacinas, epidemiologia, genética, diagnóstico.

Além disso:
- As medidas de controle que têm sido impostas têm tido bons resultados.
- A doença é assintomática ou causa sintomas leves numa parte muito significativa dos infectados.
- A maioria das pessoas que são infectadas recuperam.
- O vírus quase não afecta menores de idade e as crianças que são infectadas têm sintomas tão leves que podem passar despercebidos.

Se estivermos consciente destes factos, nos actualizarmos com informação fidedigna e respeitarmos as precauções recomendadas, estaremos a escolher a força da vida consciente, repudiando o atordoamento zombie.

CA Talks: Dr. Artur Galvão gave a talk on “Zombies, Pandemic and Philosophy”

Sars-Cov2 may cause severe breathing problems and even kill vulnerable people. However, most infected people will only experience a mild disease and some may never develop symptoms. Yet, many healthy people feel an overwhelming sense of panic about the possibility of becoming contaminated. The anxiety factor associated with the virus makes it a lot scarier than other viruses that circulate among us. Uncertainty about the nature of the virus and the consequences of becoming infected exacerbates personal fears.

Fear is a natural response to the unknown and it has been developed by evolution because it promotes survival. However, intense, excessive and persistent fear may lead to irrational behaviour and transform human beings into (philosophical) zombies. These creatures are similar to human beings but they lack conscious experience. People who rushed out to buy toilet paper acted like such zombies.

Pseudoscience is partly accountable for the epistemic zombification. A vast amount of information is available through traditional media and social media platforms, but a lot of it is unreliable. Some misinformation is due to ignorance, but people with hidden agendas deliberately spread fake news. Since most people are unable to distinguish true from false information, some of these people will be guided by unfounded ideas, while others will feel lost because doubts is all they are left with.

The epidemic of fear spreads even faster than the virus and brings forward primitive instincts such as discrimination and violence. We need to take a broad view of the situation and choose what´s best for everyone instead of what’s best for a few. Hoarding supplies isn’t just unnecessary. It’s ethically wrong since one person’s stockpiling can mean another person’s shortage. Long-term vision is also needed since maximizing short-term security may expose society to heavily negative future consequences.

To fight disproportionate fears that might take over our lives and paralyse us, our behaviour must be grounded in scientific knowledge. People that can’t stop thinking about catastrophic scenarios, even when scientific evidence goes against such predictions, may develop mental health problems and affect their community well-being. Besides trust in science, good sense and civic responsibility are other tools to overcome fears and face the totalitarian temptations in power structures.

After all, we have good reasons to believe we’ll overcome this pandemic. Scientific discoveries are happening faster than ever. In the past few months, a lot of results have been achieved:
- The virus genome was sequenced soon after the start of the outbreak and labs around the world keep sharing the genomes of the virus mutations.
- The cell biology of the virus infection is understood.
- The presence of the virus can be detected by diagnostic tests.
- There is a simple and effective way to control the spread of the virus: hand washing with water and soap.
- A large number of scientists around the world are involved in research projects to fight the virus. The studies under way focus on a variety of issues, such as: clinical aspects and treatments, vaccines, epidemiology, genetics, diagnosis.

In addition to the aforementioned scientific achievements:
- The control measures, that have been imposed, have had the expected positive outcome.
- A high percentage of people who are infected with this virus experience only mild symptoms. Some are even asymptomatic.
- Most people who get the virus recover.
- The virus hardly affects minors. The children who are infected have mild symptoms. These can even go undetected.

Let’s:
- be aware of these facts;
- regularly get updated and reliable information;
- take recommended precautions.

We’ll then be choosing the advantages and strengths of a conscious human life instead of accepting the lethargy of zombification.

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